Colegas, muitos parabéns pelo esforço de iniciativa e pelo investimento em forma de contributos. Todos ganhamos, principalmente os alunos.
Susana Cascais: muito boa contribuição.
Concordo com a generalidade da maior parte das ideias referidas, com as seguintes excepções:
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“As metas do 7.º ano são desmotivantes...” – a motivação depende inteiramente do factor criatividade, ou seja, da forma/estratégia de leccionação/exposição dos conteúdos pelo professor. Pessoalmente, com os recursos, ferramentas e instrumentos à minha disposição, acho difícil ensinar sem motivar.
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“No 8.º ano fala-se na utilização de salas de chat e redes sociais. Este tópico pode não ser abordado pois não é consensual junto dos” EEs – esse tipo de opinião dos EEs não é irrelevante, mas infundada por ignorância. Obviamente que os alunos devem aprender técnicas de defesa da integridade da sua individualidade perante a necessidade de utilização dessas plataformas, que, segundo a maior parte dos especialistas em TI, é incontornável.
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“Fica a faltar a parte de bases de dados (Access)” – Deduzo que referisse a um Sistema de Gestão de Bases de Dados (SGBD), ou é patrocinada pela Microsoft? ;) Duvido da importância da leccionação deste tipo de instrumentos no 3º ciclo e questiono-me sobre se seria adequado confrontar os alunos com as 3 formas normais. Com que objectivo concreto? Defendo sobretudo que os alunos devem ser preparados para o mundo de hoje e do futuro. Antes dessa matéria seria prioritária a programação em HTML5 ou a outra linguagem orientada a objectos/eventos, por exemplo. Nos EUA, já se iniciou uma discussão sobre a adição de conteúdos de programação no currículo do ensino básico.
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“Por todos estes motivos, exige-se a necessidade de manter a disciplina TIC como obrigatória no 9.º ano” – assunto aberto à discussão, encerrado recentemente.
Análise crítica:
Se por um lado a “definição da planificação do professor" (que "deverá ser desenvolvida de forma autónoma e em função do trabalho de avaliação diagnóstica”) permitirá aplicar o ênfase da leccionação dos “novos conteúdos”, em detrimento de outros já assimilados e evidenciados durante o diagnóstico, por outro lado essa autonomia implicará que todo um semestre de trabalho seja planeado (que não é sinónimo do termo “preparado”) no espaço de uma semana.
Com 24 tempos lectivos (isto é, 24 turmas) e 11 não lectivos (aproximadamente), o professor de TIC deve ignorar o restante trabalho docente e (conseguir) dedicar 20,625 minutos do seu tempo de trabalho a analisar as fichas de diagnóstico de 30 alunos (vá, 25), a reflectir, a decidir e a redigir o documento da planificação dessa turma – 20,625 minutos para analisar 30 fichas = pouco mais de 40 segundos por ficha. É uma possibilidade difícil, mas permitida.
Parece-me vantajoso ter um currículo convencional, organizado por conteúdos e objectivos ou, alternativamente, por módulos, que o professor de TIC escolheria e proporia ao conselho pedagógico da escola para retificação/ratificação para ir ao encontro das necessidades dos alunos da comunidade escolar (local).
É pretendida “uma literacia digital generalizada, tendo em conta a igualdade de oportunidades para todos os alunos”. Com 30 alunos numa sala não irá existir igualdade de oportunidades. Imaginando que determinado aluno, mais experiente nas TIC, não realiza determinados procedimentos para atingir determinado objetivo, e dado que os alunos, segundo a lei, serão obrigados a partilhar o seu material escolar com um ou mais colegas, um ou mais alunos não terão hipótese de por em prática/experimentar os conteúdos/instrumentos/ferramentas, produzindo uma avaliação certamente negativa por negligência, pois “A avaliação dos alunos nesta disciplina tem de ser articulada de forma coerente com o seu caráter prático e experimental ”.
Daí a importância do desdobramento: a necessidade o rácio de um aluno por computador. A minha experiência comprova que os melhores resultados são atingidos dessa forma, com essa fórmula. O trabalho intra e inter-grupo não correria riscos, graças às ferramentas de trabalho colaborativo das novas tecnologias de informação.
Aliás, consta na Lei (DN13-A/2012) que “É autorizado o desdobramento de turmas” exclusivamente para a “realização de trabalho prático ou experimental”. Segundo esclarecimento da DREC, para TIC não. Portanto, a DREC indica que, em TIC não há “realização de trabalho prático ou experimental”. Contudo, no documento das metas curriculares, novamente é referido que esta disciplina tem “caráter eminentemente prático” e que “alunos devem ser, desde o seu primeiro momento, nas aulas desta disciplina, utilizadores ativos dos computadores, das redes e da Internet”. Espero então o respetivo reforço do equipamento informático da escola; um reforço igual à quantidade já existente.
A metodologia proposta
É uma alteração no paradigma de aula, pois serão fomentadas aulas com abordagem aos conteúdos de forma informal e eminentemente prática, como na disciplina de Área de Projecto do 8º ano: “a participação dos alunos em pequenos projetos, a resolução de problemas e de exercícios práticos (…) na produção de um projeto/produto”; “encarar a utilização das aplicações informáticas (…) como uma ferramenta poderosa para facilitar (...) a resolução de problemas”; “metodologias associadas ao Trabalho de Projeto, à Resolução de Problemas e à Construção de Portefólios deverão prevalecer”. Surge novamente a dificuldade causada pelo constrangimento da carga horária atribuída à disciplina, apenas 1 tempo semanal, insuficiente para providenciar condições para o tratamento de dados e a resolução de problemas e uma correta “produção de um projeto/produto”.
Da minha experiência enquanto professor da disciplina de Área de Projecto constato que a dedicação de um mínimo de 90 minutos a aulas para desenvolvimento de projetos é o correcto: tempo para preparação e organização dos alunos – 10 minutos; realização de um ponto de situação – 5 minutos; organização do início dos trabalhos – 5 minutos; num total de 20 minutos, restando 70 minutos para o desenvolvimento.
A transversalidade das “questões de segurança” é outra motivação para o aumento da carga horária da disciplina, para, por exemplo, implementar a reflexão e a discussão sobre os respetivos assuntos.
No processo de avaliação, a eventual “reorientação do processo de ensino e de aprendizagem” requer, mais uma vez, um aumento de tempo para a sua (também eventual) implementação. Presumo que poderão existir momentos diferentes de avaliação, uma vez que os alunos “têm percursos diversos enquanto utilizadores das TIC ” e “desenvolvem experiências educativas diferenciadas”. Mas, não irá tal facto irá por em causa a existência de elementos de avaliação nos respectivos momentos formais (final dos períodos)? A classificação final é qualitativa? O objecto alvo de avaliação (contínua) é o portefólio?
O 7º ano
É incontornável abordar/caracterizar o hardware e o software dos computadores da sala de aula de TIC e incluir esse trabalho no portefólio, em jeito de relatório – processador de texto; pesquisas Web sobre ergonomia e restantes temas/assuntos. Os projectos poderão ter temas diferentes e a colecção por eles formada poderá constituir-se como base de estudo para a realização de provas dos conhecimentos adquiridos.
Apesar da pretendida vertente prática a atribuir à disciplina, é inevitável e necessário proporcionar momentos de reflexão e de discussão sobre determinados conteúdos, como a “evolução das tecnologias de informação e comunicação (TIC) e o seu papel no mundo atual”, a navegação “segura na Internet”, os critérios de selecção de “informação na Internet”, “os direitos de autor e da propriedade intelectual” e até para a “Produção e edição de documentos”, tendo também em vista a correcção de eventuais erros na produção de conteúdos pelos alunos.
O programa processador de texto, junto com o programa de apresentações electrónicas e o navegador Web (browser) são as aplicações (de longe) mais utilizadas durante a vida escolar do aluno – facto constatado por mim no quotidiano da escola. Posteriormente, e condicionado pela actividade profissional, apenas o navegador Web terá a garantia de manter tal título. Aliás, nas condições corretas o navegador Web substitui os outros dois programas através de serviços Web. De qualquer forma, neste ponto interessa atribuir igual valor ao programa de apresentações eletrónicas. Apesar de orientado para a tarefa de apresentação e de estar menos bem preparado para outras tarefas, este tipo de aplicações apresenta-se também como uma alternativa ao programa de processador de texto tradicional. Muitos são os que recorrem ao programa de apresentações electrónicas para realizar apontamentos, tomar notas, produzir relatórios, etc. Porém, como referido inicialmente, é bastante frequente os professores das restantes disciplinas (de 3º, 2º e até 1º ciclos) solicitarem a realização de projectos individuais, extra-aula, sob a forma de apresentações electrónicas. Portanto, há fundamento, vantagem, adequação e necessidade de incluir/antecipar este assunto para o 7º ano (ou ainda mais cedo).
Ainda no espírito da antecipação e nos pedidos de realização de projectos por professores, é relevante incluir a abordagem a ferramentas/aplicações de edição multimédia (imagem, som e vídeo) neste ano escolar.
Como introdução à produção e publicação de conteúdos na WWW é também relevante introduzir os alunos ao HTML.
Neste ano letivo as turmas dos 7º anos frequentaram uma sessão de esclarecimentos sobre segurança online, pelo Dia Europeu da Internet Segura. A esmagadora maioria dos alunos era assinante e utilizador activo de uma conta de uma rede social. Então, haverá negligência ao ignorar e adiar este assunto.
O 8º ano
Pela proposta das metas curriculares, está implícita a obrigatoriedade do aluno possuir e manter uma conta de correio electrónico. O acesso a equipamento informático por parte de eventuais alunos com carências económicas poderá ser garantido através de pontos multimédia, como as bibliotecas escolares. Valeria a pena pensar na atribuição de algum tipo de prioridade para garantir a utilização desses recursos por estes alunos?
Justificada pela maturidade dos alunos na operacionalização das novas tecnologias de informação e pelas ferramentas que pelos primeiros são já informalmente/formalmente utilizadas, a maioria das metas apresentadas para o 8º ano devem antecipadas para o 7º ano, nomeadamente:
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“Conhecimento e utilização adequada e segura de diferentes tipos de ferramentas de comunicação, de acordo com as situações de comunicação e as regras de conduta de funcionamento de cada ambiente digital”;
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“Uso da língua e adequação linguística aos contextos de comunicação através da Internet”;
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“Comunicação e colaboração em rede”;
Um argumento para a motivação anterior é consubstanciada pela rentabilização, via novas tecnologias de informação, e pela melhoria global na qualidade que os projectos e trabalhos dos alunos sofreriam.
A alínea 8. do ponto 2. da meta “Comunicação e colaboração em rede” revela a necessidade de possuir conhecimentos básicos de HTML.
O Course Management System (CMS) Moodle é nomeado frequentemente. Contudo, para facilitar a colaboração de “especialistas” na aula ou no projecto dos alunos e enriquecer a experiência destes seria bom que fosse salvaguardada a utilização de plataforma de apoio ao ensino e aprendizagem alternativa equivalente, por exemplo, as Google Apps.
A eficácia da implementação deste modelo/paradigma exige planificação e preparação cuidada. É fundamental proporcionar oportunidade para por em prática as referidas atividades (planificação e preparação). Perante a possibilidade de leccionar 24 turmas, não é exequível. Assim, este modelo/paradigma com uma carga horária de 45 minutos semanais, falha à partida.
Com a excepção do programa de folha de cálculo, que poderia ser abordado apenas no 8º ano, todas as temáticas deveriam ser introduzidas e exploradas no 7º ano, para depois, no 8º ano, proceder a uma abordagem das mesmas mas de forma mais aprofundada. Trata-se de matéria útil e relevante para a vida académica, pessoal (no presente) e profissional (no futuro) dos alunos.
De resto, parece-me bem.
Colega Carlos Machado Nunes, o questionário não funciona – erro.
Para terminar, três offtopics:
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A adopção de uma nova postura e de uma nova via de argumentação é urgente; os professores devem defender a formação e preparação completa dos seus alunos, em vez de defender apenas o seu posto de trabalho; se a argumentação de fundamentação não tiver força legítima e valor para o país, não serão consideradas; isto é, se for revelado o perigo que o erro da subtracção da leccionação das Tecnologias de Informação / Computação ao ensino, os argumentos terão legitimidade para a tão necessária análise (e discussão) transversal, séria, pelas instâncias superiores e parceiros sociais.
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Cada vez mais me parece que a disciplina deveria ser designada por Tecnologias de Informação. O acto de comunicação está implícito no acto e conceito de “informação”. O próprio documento de proposta das metas curriculares sustém esta opinião, através dos excertos: “e desenvolver neles a capacidade de pesquisar, tratar, produzir e comunicar INFORMAÇÃO das TECNOLOGIAS”; “livros, revistas, enciclopédias, jornais e outros suportes de INFORMAÇÃO”.
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Apesar de terem já sido apresentadas várias planificações para os dois anos da disciplina (trabalho esse de muito louvor, não só pelo documento mas, sobretudo, pelo espírito de partilha) defendo que devemos manter a exigência dos 90 minutos semanais. Portanto, todos os documentos deveriam prever essa carga horária. A indicação dos 45 minutos é grave e contraproducente – os alunos, enquanto futuros trabalhadores, serão as principais vítimas deste processo.
Porque quero viver sem ter que suportar o terrível sentimento de arrependimento, chegar a velho com a consciência tranquila com uma sensação de dever cumprido – With great power comes great responsibility.
Agradeço o espaço e a oportunidade para partilhar a minha opinião.